Campanha invicta conduz Gurias à reconquista do Brasileirão Sub-17
Não se deixe enganar pela idade das protagonistas dessa história: a conquista do Brasileirão Feminino Sub-17, na segunda-feira passada (19/08), foi um feito de gente grande. Invictas, donas da defesa menos vazada e do segundo melhor ataque da competição, as Gurias Coloradas avançaram até a final nacional com 100% de aproveitamento, e honraram, na decisão, o DNA peleador do Clube do Povo para chegar ao bicampeonato do país. Agora, o Site do Inter te apresenta os principais destaques da caminhada rumo ao título.
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Tiro curto, ritmo alto
A primeira fase do Brasileirão Feminino Sub-17 foi disputada por 16 equipes divididas em quatro grupos. Na luta pela liderança de sua chave, que significaria classificação às semifinais, cada time travou três partidas em uma semana, e a baixa quantidade de confrontos, bem como o curto intervalo entre cada um deles, transformava qualquer tropeço em sinônimo de eliminação.
Campeão da primeira edição do Campeonato Brasileiro Feminino Sub-17, em 2022, o Inter não queria saber de ficar pelo caminho, e tratou de evidenciar suas ambições logo na rodada de estreia. No Sesc Protásio Alves, as Gurias Coloradas começaram a trilhar a campanha do título, no último dia 27 de julho, goleando o Athletico-PR pelo placar de 6 a 0. Milenna, Piauí, Lara, Katguria, Aninha e Stephanie marcaram os gols da partida.
Mais de 3.700km foram desbravados rumo à segunda rodada, que também testemunhou espetáculo das Gurias. Com dois gols de Piauí, outros dois de Gabi Inácio, e mais um de Stephanie, Alemoa e Duda Abreu, o Inter arrasou o Sport, no Arruda, por 7 a 0! Para assegurar a liderança do grupo C, bastaria ao Colorado, no fechamento da chave, empatar com as paulistas do São José, que haviam conquistado quatro pontos nos seus dois primeiros jogos.
De volta ao Sesc, o Clube do Povo não abraçou a vantagem do empate. Afinal, se a primeira colocação na chave já estava encaminhada, vencer (pelo maior número de gols possível) era obrigatório para uma equipe que desejava avançar de fase com a melhor campanha geral. E foi assim que, com gols de Giovanna Bet, Aninha e Gabi Inácio, o Colorado bateu o São José-SP por 3 a 0 e assegurou o mando de campo no jogo de volta da semifinal.
Velhas conhecidas na semifinal
Inter e São Paulo têm duas das mais vitoriosas categorias de base do futebol feminino nacional. Tradicionais, as equipes já decidiram títulos nas categorias Sub-20 e Sub-18, sem falar de outros cruzamentos marcantes em fases anteriores às finais. Em 2024, um novo capítulo especial foi adicionado à rivalidade entre coloradas e paulistas – e o desfecho, mais uma vez, se mostrou feliz para o lado vermelho.
Única fase do Brasileirão Feminino Sub-17 disputada em jogos de ida e volta, a semifinal teve seus primeiros 90 minutos sediados no Estádio Municipal de Santana do Parnaíba, localizado na Região Metropolitana de São Paulo. Até então, tanto as Gurias quanto as paulistas exibiam 100% de aproveitamento na competição, estatística que sugeria um confronto equilibrado em solo bandeirante – como de fato ocorreu no primeiro tempo.
Somente aos 23 minutos do segundo tempo o placar foi modificado, e coube a Yngrid Piauí, dona de três gols na primeira fase do Brasileirão, a responsabilidade de abrir os caminhos para o Inter nos mata-matas. Natural de Teresina-PI, a centroavante de 15 anos de idade – completará 16 no próximo dia 22 de dezembro – balançaria as redes em todos os jogos a partir de então, apresentando credenciais de uma goleadora com estrela para o futuro alvirrubro.
Quem também brilhou em São Paulo foi Mel! Nos acréscimos da segunda etapa, a atacante ampliou a conta e definiu a vitória das Gurias por 2 a 0. O triunfo, contudo, pouco pôde ser saboreado: apenas três dias depois de largar em vantagem na semifinal, o Clube do Povo voltou a campo, na manhã de 11 de agosto, para a disputa de mais 90 decisivos minutos no Sesc.
Depois de se sagrarem campeãs em 2022, as Gurias haviam sido eliminadas, em 2023, justamente na semifinal do Brasileirão Sub-17. Além de avançar, as coloradas também simpatizavam com a ideia de manter os 100% de aproveitamento na campanha de 2024, pois assim garantiriam que a finalíssima, independente do adversário, ocorreria no Sesc. O lema para o jogo da volta, desta forma, era um só: vencer ou vencer. E vencemos (de novo!).
Artilheira e decisiva, Piauí marcou o único gol do primeiro tempo. Lançada por Sarah, a camisa 27 explorou com inteligência a linha de impedimento paulista para, aos 41 minutos de jogo, sair cara a cara com a goleira adversária. Praticamente em cima da risca da grande área, a atacante fintou a adversária e garantiu gol aberto para finalizar de perna direita e partir para o abraço.
Minutos após o recomeço de partida, o São Paulo teve uma defensora expulsa. Pouco depois de ficar com uma jogadora a menos, a equipe visitante igualou a conta no marcador. Fértil em reviravoltas, o segundo tempo colocou à prova o psicológico das Gurias, que superaram o duro teste com louvor. Simbolizando a força do grupo colorado, a meio-campista Stumpf, saída do banco de reservas, mostrou perfume de gol para marcar duas vezes e dar números finais ao embate. No Sesc, 3 a 1. No agregado, 5 a 1.
Vamos lutar, até morrer… SEREMOS CAMPEÃS!
As Gurias Coloradas contaram com um artigo raro na preparação para a final do Brasileiro: tempo. Mais precisamente, oito dias entre a classificação sobre o São Paulo e a disputa do título. Neste período, aproveitado ao máximo pela comissão técnica liderada por David da Silva, o Inter conheceu seu adversário na final (o Grêmio) e teve as atacantes Aninha, Piauí e Stephanie convocadas para a Seleção Sub-17.
Maior rivalidade do país, o Gre-Nal que decidiu o Brasileirão Feminino Sub-17 também serviu como um tira-teima entre as duas únicas equipes campeãs nacionais da categoria. Mais do que o título, o vencedor do clássico se isolaria como bicampeão do torneio. Difícil, portanto, imaginar uma final maior para a edição de 2024, que foi acompanhada por grande público no Sesc Protásio Alves.
A instabilidade meteorológica que pairou sobre Porto Alegre na segunda-feira passada (19/08) adicionou ainda mais tempero à decisão nacional. Disputado sob forte chuva, o primeiro tempo foi encerrado com parcial vitória de 1 a 0 das visitantes, que inauguraram o placar aos 40 segundos de confronto.
Apoiadas por centenas de colorados e coloradas, as Gurias voltaram dos vestiários decididas a buscar o empate, mas foi Helô, em jogada de contragolpe, quem ampliou a vantagem visitante logo segundo minuto da etapa final. Na teoria, a estratégia traçada no intervalo corria risco de ruir. Na prática, o Clube do Povo demonstrou, mais uma vez, que estava pronto para ficar com a taça.
Contagiadas pelo grito emanado da arquibancada, nossas campeãs usaram de uma arma nada secreta, mas absolutamente letal, para reduzir a desvantagem no placar. Da entrada da área, Pietra finalizou com bloqueio da marcação, e a bola, espirrada, procurou pelo faro artilheiro de Piauí. No lugar certo e na hora certa, a goleadora definiu duas vezes. Na primeira, a goleira salvou. No rebote, Yngrid marcou: 2 a 1 no escore, 35 minutos no cronômetro!
Minutos depois do gol de Piauí, Milenna arrancou suspiros (e unhas) da torcida colorada. Das cercanias do grande círculo do gramado, a zagueira ousou soltar a bomba de perna direita e surpreender a goleira Josi. Forte e venenoso, o chute da zagueira colorada percorreu uma trajetória quase perfeita no ar, mas preferiu o travessão às redes como seu destino final.
Embora teimoso, o destino não foi injusto com Milenna. Aos 44 minutos, Duda Abreu, que vinha se destacando nas bolas paradas ofensivas, cobrou escanteio açucarado em direção à primeira trave visitante. Ali, a zagueira colorada antecipou a marcação adversária e parou no ar para desviar de cabeça e, finalmente, encontrar o caminho do gol. Resilientes, as coloradas empatavam. Que viessem os pênaltis!
Na marca da cal, o brilhou seguiu colorado (e continuou em família). Irmã gêmea de Milenna, Camilly esbanjou envergadura e explosão para defender a primeira e a terceira batidas do lado gremista. Ao mesmo tempo, Aninha e a própria Milenna, visivelmente confiantes e bem treinadas, marcaram para o Inter. Além delas, Sarah carimbou o travessão e, em decisão no mínimo controversa, a arbitragem indicou que a bola não teria cruzado a linha ao reencontrar o chão.
Após três cobranças de cada lado, o placar de 3 a 1 aproximava o Inter do título, mas Gisele manteve vivo o sonho adversário. Duda Abreu, quarta jogadora a bater para as coloradas, também converteu, e nos deixou a uma boa notícia da taça, que chegou através da perna canhota de Laura. Rasteiro e de chapa, a lateral-esquerda do Clube do Povo confirmou: as Gurias Coloradas são bicampeãs brasileiras Sub-17!
