Dia dos Pais: colorados contam sobre o amor entre avô, pai, filho e Inter
“Pai, por que tu fazes tudo isso pelo Inter?”, perguntou o pequeno Tales. Após uma breve pausa, ele ouve: – “Filho, não tem como te explicar, mas um dia tu entenderás”. Esse foi um dos primeiros diálogos do colorado Tales com seu pai. Passaram-se os anos e tudo o que ouvia em relação ao Inter fez sentido. Neste domingo especial, Dia dos Pais, colorados contam, através de depoimentos, sobre a influência dos pais e avós em sua paixão pelo Internacional.
“Não sei precisar quando foi o início da minha devoção a religião colorada. Porém, jamais poderei esquecer o responsável por me apresentar a ela: meu pai. Quando criança, via meu pai explodindo em sentimentos pelo Inter. Eram gritos, pulos, vibrações, sorrisos, lágrimas e eu custava a entender o significado daquilo tudo. “Pai, por que tu fazes tudo isso pelo Inter?”. Neste momento, vivenciei algo que nunca mais esquecerei. Meu pai olhou-me calmo, com serenidade e ternura e, após alguns minutos em silêncio, disse, “Não tem como te explicar, mas um dia tu entenderás”. O tom da resposta dele, misteriosa, porém, taxativa, esteve em meus pensamentos durante um tempo. Um dia eu entenderia e assim foi. Com o tempo aprendi a sentir, em cada gol, cada abraço com ele, cada grito e cada choro o que aquele silêncio significava.
Hoje, vivenciando os ensinamentos dele, entendo que o Inter, meu pai e eu somos uma simbiose e a nossa relação não existe sem o que mais nos aproxima: o louco amor pelo Internacional. Há cinco anos, mais um membro foi adicionado a nossa mutação colorada, o Bento, meu primogênito. Recentemente tivemos outra adição, o Caetano, meu segundo filho. Diariamente eu repito com eles o mesmo ritual, quase sagrado, que vivenciei, de transmitir esse sentimento colorado.
Não poucas vezes, eu fico imaginando quando for a minha vez de responder, “Por que, Pai, tudo isso pelo Inter?” Anos se passaram desde a pergunta que fiz a meu pai e somente hoje, sendo também pai, eu compreendo a incapacidade dele de explicar o Inter. Ocorre, que não há palavras no dicionário com capacidade de descrever o que é isso tudo. Amor? É raso! Paixão? Não chega! Devoção, apego, carinho, afeto, ternura, é sempre pouco e inútil. O significado do Inter em nossas vidas é indescritível e inalcançável, e, assim como o meu pai, sei milhões de outros pais colorados fracassaram ao tentar explicar o Inter, mas transmitiram os mesmos sentimentos. Hoje, sei que somente nós, colorados, sabemos sentir isso, pois, formamos uma nação que, como diz o nosso hino, vive a exaltar o Internacional.
Meu pai me ensinou o que de mais lindo se pode ensinar a um filho e eu pretendo fazer o mesmo com os meus, ensiná-los a viver intensamente os sentimentos. Vivo com os meus filhos e com o Inter a pura emoção de sentir, sem explicações, teorias ou entendimentos, apenas sentimentos, pois, me perdoem, mas aqueles que conseguem explicar o Inter, é por que não entendem nada do que é ser colorado”.
Tales Cronst – Ijuí/RS
“Não enxergo outra maneira de falar sobre futebol sem lembrar a figura de meu avô paterno, Pedro Kern. Um autêntico colorado. Nele, brotava a essência de um verdadeiro torcedor. E, para atestar essa afirmação, não é necessário fazer esforços hercúleos. Basta perguntar para qualquer morador de Taquari/RS que, assim como eu, teve o privilégio de conviver com o famoso ‘Pedrinho Jornaleiro’.
Os mais saudosos recordam com clareza cada conversa. Montado em sua inseparável bicicleta, meu avô saía pelas ruas da cidade. Primeiro, entregando jornais; depois, vendendo pastéis. Sem esconder sua verve aflorada e a identificação com o Inter, todos o conheciam pelo seu coloradismo inabalável. Tal qual um atleta fardado com o manto alvirrubro dentro de campo, ele jogava junto com o time, ligado sempre no rádio ou na televisão. Depois, repercutia o resultado dos duelos. Tocava ou recebia flauta. Parte de uma paixão que, naturalmente, se inflamava em época de Gre-Nal. Pedrinho era (e ainda é) o Inter, e o Inter era (e ainda é) o Pedrinho. Pela trajetória e pela bravura, os dois se completam.
Hoje, estou na honrosa posição de vice-cônsul do Internacional em Taquari, e carrego o orgulho de ter nascido filho de um dos colorados forjados pela raça, pela luta, pela entrega e pela paixão de um guerreiro que tão bem representou as cores vermelho e branco. Ao lado de meu avô, tive a sorte de testemunhar as maiores glórias do Clube do Povo. Certamente, os momentos mais felizes das nossas vidas.
Até sua partida para a eternidade, em 2014, Pedrinho compartilhou histórias, colecionou incontáveis amigos e defendeu com unhas e dentes seu Internacional. Missão esta que seguirei cumprindo. Neste Dia dos Pais, saúdo aquele que, para mim, será sempre o maior de todos. Exemplo de simplicidade, humanidade e altruísmo. Características que se fundiram com a admiração por um incomparável time de futebol. Não há como falar de Inter sem que minha memória regresse e reverencie esta pessoa que, mesmo agora distante fisicamente, levarei comigo até o último dos meus dias”.
Juliano Kern – Taquari/RS
“Tudo começou pelo amor ao futebol e com a influência paterna logo veio o amor ao ‘Colorado’, como meu eterno pai Lineu chamava. Lembro-me de jogar futebol com ele aos domingos antes do almoço. À noite, sempre me contava histórias sobre o Inter e sobre alguns jogadores da década de 1970. O auge era quando escutávamos aos jogos do Inter na radinho a pilha e se estendia até o pós-jogo acompanhando a jornada esportiva. Mas como ser colorado sem o manto sagrado? Não pedia presentes porque a vida era muito difícil, mas fui surpreendido com o maior dos presentes em meio a um Natal. Agora sim, tudo estava completo com a minha camisa vermelha. Lembro que em 1997, quando conquistamos o título do Gauchão, fizemos a maior festa no centro da cidade. Como de costume, meu pai ficou encostado na parede de loja contemplando a carreata, o ‘buzinaço’ e o ‘bandeiraço’ que nós colorados fazíamos. Aquele dia é inesquecível.
Mesmo com o avanço das tecnologias meu pai nunca deixou de ser fiel ao rádio. Eu mantive a rotina de atravessar a cidade para ver os jogos em um ponto de encontro de colorados, local onde fiz muitas amizades. Ao chegar em casa era com ele que comentava com ele sobre o jogo. Nos títulos de 2006, 2007, 2008, 2010, a história se repetia: lá estava o meu pai, acompanhando as carreatas encostado no mesmo lugar de sempre.
Em 2011 resolvi me tornar sócio e contribuir com o meu Clube do coração. Em 2015 o Consulado Colorado de Canguçu-RS foi reaberto. Em 2017 me tornei cônsul da cidade, uma honra que me emociona a cada dia. Como forma de agradecimento por eu ter me tornar colorado, tomei a iniciativa de associar meu pai ao Clube do Povo e a alegria ficou completa.
Meses depois, tive a maior das derrotas com sua partida. Lá se ia meu companheiro de tantas jornadas. Desde esse dia, eu sempre peço para que de onde quer que ele esteja, que ilumine o nosso Colorado e a nossa família”.
Cícero Gomes – Canguçu/RS