A história de encontros entre Inter e Pelé
O futebol perdeu seu maior nome. Aos 82 anos, Pelé faleceu na última quinta-feira (29/12), deixando órfã toda a comunidade do esporte mais popular do planeta – incluindo, é claro, a torcida do Internacional, Clube que teve a honra de registrar diversos encontros com Edson Arantes do Nascimento ao longo dos anos. Relembre, agora, alguns desses cruzamentos entre o Rei e o Colorado.
O inesquecível amistoso nos Eucaliptos
Menos de três meses depois de brilhar na Suécia e conquistar a primeira de suas Copas do Mundo, Pelé veio ao Rio Grande do Sul, em setembro de 1958, para participar de amistosos do Santos no estado. O primeiro ato alvinegro em solo gaúcho teve como palco o Estádio dos Eucaliptos, diante do Internacional de Larry, Florindo, Canhotinho e companhia.
Na Rua Silveiro, o Rei bem que tentou, mas sofreu com a implacável marcação da zaga colorada. De todo modo, participou do gol santista, anotado, aos cinco minutos da etapa final, pelo também campeão do mundo Zito. Àquela altura, porém, o placar já era favorável para o Clube do Povo, que encerrara o primeiro tempo na dianteira graças aos tentos de Canhotinho e Ivo Diogo.
Logo depois do desconto paulista, Cacaio ampliou a vantagem alvirrubra. Já Larry, garçom dos dois primeiros gols colorados, foi artilheiro aos 22 minutos, quando transformou o triunfo em goleada. Nos instantes derradeiros, ainda houve tempo para Ivo Diogo marcar mais um. Nos Eucaliptos, o Inter venceu por 5 a 1.
O triunfo, primeiro conquistado pelo Clube do Povo sobre o Santos, foi muito festejado por jogadores e torcida. Aquele Peixe, afinal, logo conquistaria o Paulistão com Pelé estabelecendo (mais um) recorde – o de 58 gols marcados em uma única edição do Estadual. Vencê-lo, portanto, era histórico, como Larry destacaria depois do apito final.
“Uma vitória destas a gente
jamais pode esquecer”
Larry
Elogios do Rei
Trecho extraído do jornal Diário de Notícias destaca que o Rei “achou muito boa a equipe do Internacional. Destacou a atuação de Florindo, cuja conduta classificou de boa e, acima de tudo, muito cavalheiresca. Dos jogadores de ataque do Internacional, gostou mais de Ivo Diogo.
Revés no Robertão
Se escapar incólume de um enfrentamento com Pelé já era improvável, sobreviver a dois jogos contra o Rei parecia praticamente impossível. Em 1968, o Santos visitou o Inter no dia 23 de outubro, data do aniversário de Edson Arantes do Nascimento, que comemorou os 28 anos de vida contribuindo com um gol e uma assistência para a vitória de 3 a 1 do Peixe no Estádio Olímpico.
Mais de 57 mil pessoas acompanharam a partida, válida pela primeira fase do Robertão – em breve, o Inter seria vice-campeão do torneio, que teria exatamente o Santos como vencedor. Antes do jogo, o Rei foi celebrado com um bolo de três (!) metros de altura, e deu uma volta olímpica para agradecer a presença do público. Mais do que um rival, recebeu o merecido tratamento de ídolo.
Treino contra a base e jogo no Festival de Inauguração do Beira-Rio
Inaugurado no marcante 6 de abril de 1969, o Beira-Rio estreou seu moderníssimo sistema de refletores no dia seguinte à partida entre Inter e Benfica. Em preparação para a Copa do Mundo de 1970, o Brasil enfrentaria o Peru na segunda partida da história do Gigante, e o jogo, amistoso, também seria o primeiro do radialista João Saldanha à frente da casamata canarinho.
Antes de duelar no Gigante, a Seleção se preparou nos Eucaliptos, onde pôde treinar contra um adversário de peso. No caso, o time juvenil do Inter, que na temporada anterior havia conquistado o Campeonato Gaúcho da categoria. À época, a geração colorada reunia futuros craques e ídolos como Paulo César Carpegiani e Escurinho.
Devidamente testada, a Seleção venceu e convenceu no Beira-Rio. Naquele 7 de abril, o time de João Saldanha esteve tão iluminado durante o primeiro tempo quanto o gramado do Gigante ao longo de toda a noite. Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Dirceu Lopes, Piazza e Gérson, Jairzinho, Tostão e ele, Pelé; foram os titulares que abriram o placar logo aos cinco minutos de jogo.
O primeiro gol do Brasil no Gigante passou pelos pés do Rei. Da esquerda, o maior da história cruzou bola mal cortada pela zaga e imediatamente aproveitada por Tostão, que atuou como garçom de Jairzinho: 1 a 0! A festa logo foi interrompida, já que Gallardo empatou o jogo aos nove, mas também não demorou para ser retomada. Mais uma vez, com participação de Pelé.
Quando o relógio indicava 26 minutos, Edson Arantes foi Rei, e lançou Jairzinho com perfeição. Desesperado com a iminência do segundo gol canarinho, o zagueiro José González usou do braço para cortar a trajetória da bola. Na cobrança da falta, assinalada praticamente sobre a linha, Gérson colocou a canhotinha à prova.
Placar do primeiro tempo, o 2 a 1 persistiu ao longo de toda a etapa final, que viveu sua maior emoção no momento da substituição do Rei. Desgastado pela maratona de jogos que vivia com o Santos, Pelé saiu de campo aos 37 minutos e, tão logo pisou fora das quatro linhas, teve sua camisa roubada por um torcedor. Ainda bem que Saldanha dispunha de um cobertor para proteger seu craque na gélida noite de outono gaúcho.
Entrega da taça do Bi da Libertadores
Em 2010, o Rei coroou os donos da América. No Beira-Rio, o Clube do Povo, que já havia superado o Chivas por 2 a 1 no jogo de ida da final da Libertadores, voltou a vencer os mexicanos, desta vez por 3 a 2, para conquistar o bicampeonato continental. Inaugurada a comemoração em Porto Alegre, Pelé surgiu para engrandecer ainda mais o feito colorado.
Depois de assistir à finalíssima dos camarotes, o Rei partiu para o gramado. Vestindo um impecável terno vermelho, recebeu a ovação da torcida à medida que caminhava rumo ao pódio, de onde participou da cerimônia de premiação dos campeões. Um a um, os atletas colorados receberam a medalha das mãos de Pelé, que também foi responsável por entregar o troféu ao capitão Bolívar. A festa estava completa.
Visita às obras do Gigante
Embaixador da Copa do Mundo do Brasil, o Rei Pelé visitou as obras do Beira-Rio em 2011. Ao lado de autoridades políticas do país e do Rio Grande, foi recebido por Fernandão, então diretor-técnico do Inter, e elogiou o andamento da reforma do Gigante. No gramado da casa colorada, Edson Arantes do Nascimento também posou para fotos, muitas delas ao lado do ídolo e capitão colorado, que certamente o recebeu de braços abertos na eternidade que agora lhes serve de morada.