Gurias Coloradas – História
Histórico da modalidade no Inter
O Sport Club Internacional sempre foi um entusiasta do futebol feminino. O Clube deu início às atividades da modalidade em 1983, e, em 1987, conquistou o terceiro lugar no Campeonato Brasileiro. Durante vários anos, não existiram relatos no Rio Grande do Sul de outra instituição apoiando a prática do esporte entre as mulheres com estrutura comparável à colorada.
Uma década mais tarde, em 1996, por iniciativa de Eduarda Luizelli (Duda), o Inter retomou o esporte. Os frutos do retorno passaram a ser colhidos em 2000, com o título da Copa Sul, torneio no qual o Clube do Povo se sagrou bicampeão na temporada seguinte, quando também venceu a Copa Cidade de Gravataí e, uma vez mais, chegou à medalha de bronze no Brasileirão.
Pujantes, os resultados alcançados ao longo das temporadas que encerraram o Século XX tiveram como consequência a convocação de atletas coloradas para a Seleção Brasileira. As primeiras chamadas para vestir a camisa canarinho, em 1999, foram Sônia e Maria. Depois, em 2002, Priscilla, Solange, Rosana Maria e Karina defenderam a Amarelinha. No mesmo ano, o Inter conquistou o tetracampeonato gaúcho em cima do seu maior rival.
Já em 2003, o Clube do Povo foi campeão dos Jogos de Porto Alegre nas categorias mirim, infantil e juvenil. De sua parte, a equipe adulta conquistou o tricampeonato do Metropolitano. Para além das fronteiras municipais, a base ainda atingiu o título brasileiro infantil, o pentacampeonato estadual e venceu o Torneio Emancipação com o infanto-juvenil – que também alcançou o vice-campeonato nacional.
Em 2004, o Inter voltou a ceder atletas para a Seleção Brasileira. Na ocasião, Rosana e Solange foram convocadas para formar a equipe que disputaria os Jogos Olímpicos de Atenas. As jogadoras participaram da campanha que levou a modalidade ao primeiro pódio de sua história através da inesquecível conquista da medalha de prata (melhor resultado já atingido pelo Futebol Feminino do país, e repetido em 2008).
Surgem as Gurias Coloradas
Após um período sem atividades, o departamento de Futebol Feminino foi novamente ativado no ano de 2017, em movimento que antecipou a obrigatoriedade da Conmebol, que entraria em vigência a partir de 2019. Inicialmente vinculada à vice-presidência de Relacionamento Social, a modalidade vem, desde então, consolidando-se como um projeto de exemplo para o Brasil.
Internamente, o Futebol Feminino do Inter integra, desde o início de 2021, a vice-presidência de Futebol. Sucesso junto à torcida, as Gurias Coloradas, como são carinhosamente chamadas, construíram uma caminhada de ascensão capaz de dar inveja a qualquer clube do cenário nacional, e que já rendeu (e segue rendendo) frutos tanto na modalidade profissional quanto nas categorias de base!
Assim que reativado o departamento, os passos inaugurais foram dados com a contratação de uma comissão técnica formada por treinadora, fisioterapeuta e preparadores físico e de goleiras Em seguida, o Inter organizou uma avaliação técnica que reuniu cerca de 700 meninas no CT de Alvorada. Da peneira saíram 70% das atletas campeãs gaúchas de 2017, título conquistado no Beira-Rio e nos pênaltis, após vitória de 3 a 1 sobre o Grêmio no tempo normal.
A conquista do Estadual classificou as Gurias Coloradas para o Brasileirão A2 de 2018. Na segunda divisão do futebol feminino nacional, o Inter avançou invicto até as semifinais, quando foi eliminado pelo Vitória. A desistência do Rio Preto-SP, porém, coroou os dois primeiros anos de trabalho do Futebol Feminino do Clube do Povo com a tão sonhada vaga na elite do país!
Caminhada na elite nacional
Reforços de peso desembarcaram em Porto Alegre para a disputa do Brasileirão A1. Ainda em 2018, Maurício Salgado foi contratado para o comando técnico. Meses depois, chegaram a goleira Yasmim, as meio-campistas Mariana Pires e Naná e a atacante Luana Spindler. Por fim, já durante a competição, as futuras ídolas Fabi Simões e Bruna Benites completaram o grupo com o seu status de atletas da Seleção Brasileira.
As contratações surtiram efeito, e o Inter estabeleceu a melhor campanha da história de um time estreante na elite do país, conquistando 29 pontos no turno de pontos corridos – encerrado na quinta posição. Classificadas para os mata-matas com quatro rodadas de antecedência, as Gurias se despediram do Brasileirão A1 nas quartas de final, fase que também foi a grande pedra no sapato colorado em 2020. Na ocasião, o Clube do Povo avançou às eliminatórias como terceiro, mas parou no Avaí/Kindermann.
A história mudou em 2021. Depois de uma primeira fase menos gabaritada do que as anteriores, muito por conta das lesões que desfalcaram o time de Maurício Salgado, as Gurias eliminaram, de virada, o São Paulo nas quartas de final. Enquanto o jogo de ida, disputado no Beira-Rio, foi encerrado com vitória paulista por 2 a 1, a partida de volta testemunhou uma virada história do Clube do Povo.
No Morumbi, as rivais até saíram ganhando, mas Fabi, ainda no primeiro tempo, e Ari e Shashá, ambas depois dos 40 minutos da etapa final, asseguraram a vitória por 3 a 1 e, com ela, a inédita classificação para as semifinais. Os aprendizados herdados ao longo dos anos anteriores deixavam evidente que o elenco, apesar de quaisquer contratempos, estava pronto para reivindicar seu lugar na primeira prateleira do futebol nacional.
A quarta temporada consecutiva do Inter na primeira divisão do Campeonato Brasileiro Feminino reuniu o que de melhor as Gurias haviam apresentado até então. Na primeira fase, as coloradas reeditaram os números de 2020, e avançaram na terceira posição. Nos mata-matas, o Flamengo foi eliminado sem necessidade de drama: vitória de 3 a 1 no Rio e empate por 1 a 1 no Gigante. Depois, nas semis, o São Paulo voltou a ser derrotado.
No Beira-Rio, mais de 7.000 pessoas estabeleceram um breve recorde de público das Gurias na nossa casa, e assistiram ao empate de 1 a 1 com o Tricolor. Já em São Paulo, o Morumbi voltou a servir de salão de festas para o Inter, que venceu por 1 a 0 e garantiu, mais do que a vaga na final, a primeira classificação da história do futebol feminino gaúcho para a Libertadores da América.
A final do Brasileirão de 2022 teve seu primeiro jogo disputado no Beira-Rio. Na manhã do domingo dia 18 de setembro, 36.330 colorados e coloradas quebraram o recorde de público até então vigente em jogos entre clubes do futebol feminino de nosso país e proporcionaram uma manhã inesquecível para todos os amantes da modalidade, que também foram brindados com um grande espetáculo dentro de campo. O 1 a 1 foi o placar da partida contra o Corinthians, rival que conquistaria o título na semana seguinte.
Hegemonia estadual
Depois de 2017, as Gurias também conquistaram o Campeonato Gaúcho em 2019, 2020 e 2021. Todas as taças foram levantadas diante do Grêmio, e reforçaram a tradicional hegemonia do Inter, nove vezes campeão estadual, no futebol feminino do Rio Grande do Sul.
O sistema de final única, que vigorou no Campeonato Gaúcho durante três anos, estreou em 2019. No Estádio 19 de Outubro, em Ijuí, as Gurias venceram o rival por 4 a 2, com dois gols de Fabi Simões, um de Naná e outro de Jheniffer. Na temporada seguinte, a Arena Cruzeiro sediou triunfo colorado por 2 a 1, construído graças a Djeni Becker e Byanca Brasi. Já taça de 2021 foi conquistada no mesmo palco, mas nos pênaltis, depois de empate de 1 a 1 no tempo normal (Fabi marcou para o Inter).
Base vencedora
As categorias de base são um dos principais alicerces da tradição colorada, e as nossas Gurias não fogem à regra quando o assunto é valorização do Celeiro de Ases. Honrando a biografia do Inter, elas contam com um minucioso trabalho de formação de atletas, voltado tanto à conquista de títulos, pilar fundamental para que as jogadoras desenvolvam desde pequenas um DNA vencedor, quanto à revelação de nomes capazes de atuar no time profissional.
Multicampeã em nível estadual, a base feminina do Inter é a única do país que já venceu todos nacionais possíveis. Em 2019, o primeiro Brasileirão Sub-18 da história foi conquistado, no Pacaembu, sobre o São Paulo, enquanto o título da etapa brasileira da Liga de Desenvolvimento Sub-16 veio após triunfo em cima da Chapecoense.
Já a taça do Brasileirão Feminino Sub-16 foi erguida em 2020, no dia 20 de dezembro, após vitória de 2 a 0 contra o Minas Brasília. No início do ano, a categoria já havia conquistado, em cima do Liverpool-URU, a Libertadores, comprovando que o sucesso do projeto das Gurias Coloradas não fica restrito às fronteiras nacionais.
A CBF alterou o calendário dos campeonatos de base do Brasil para 2022, substituindo os Nacionais Sub-16 e Sub-18 por Sub-17 e Sub-20, e o Inter fez questão de carimbar seu nome logo nas edições inaugurais de cada torneio. O troféu juvenil foi garantido sobre o Santos, com vitórias tanto no jogo de ida da final, disputado na Vila Belmiro e encerrado com o placar de 1 a 0, quanto na volta, quando o Sesc presenciou triunfo de 2 a 1.
Já a conquista do Brasileirão Sub-20 envolveu um triunfo histórico sobre as rivais gremistas, eliminadas pelo placar agregado de 8 a 0 na fase semifinal, e um novo embate com o São Paulo. Diante das paulistas, a vantagem construída em Porto Alegre fez a diferença, uma vez que, depois do triunfo de 2 a 0 no Sesc, as coloradas garantiram a taça através de empate por 2 a 2 em Satana da Parnaíba.
Numerosos, os títulos, tanto adultos quanto da base, mostram que, se o presente é de brilho do Inter no futebol feminino, o futuro promete ainda mais protagonismo – e ele está mais perto do que parece. Afinal, as Gurias Coloradas seguirão sonhando cada vez mais alto, provando todos os dias que, com trabalho duro e investindo, seguiremos fazendo história na modalidade. Vamo, Inter! Vamo, Gurias!