Glória do desporto nacional
Oh, Internacional
Que eu vivo a exaltar
Levas a plagas distantes
Feitos relevantes
Vives a brilhar
Correm os anos, surge o amanhã
Radioso de luz, varonil
Segue a tua senda de vitórias
Colorado das glórias
Orgulho do Brasil
É teu passado alvirrubro
Motivo de festas em nossos corações
O teu presente diz tudo
Trazendo à torcida alegres emoções
Colorado de ases celeiro
Teus astros cintilam num céu sempre azul
Vibra o Brasil inteiro
Com o clube do povo do Rio Grande do Sul
Quase 50 anos anos haviam passado desde a fundação do Clube do Povo. Paradigmas de uma sociedade ainda segregante haviam sido quebrados pelo time que se tornou democrático e aberto para todas as classes sociais e raciais. O ‘Rolo Compressor’, time lendário de Tesourinha, Russinho, Carlitos e Cia, já escrevera capítulos importantes da história alvirrubra na década de 1940.
O Estádio dos Eucaliptos vivia sua era final, quase dando lugar ao Beira-Rio. Mas ainda faltava uma canção para celebrar o orgulho de ser colorado e de torcer pelo Internacional. O Clube do Povo precisava de um hino oficial. Foi então que, de maneira despretensiosa, em uma tarde do ano de 1957, surgiram os versos do ‘Celeiro de Ases’.
O carioca Nelson Silva, nascido em 16 de junho de 1916, havia chegado em 1943 a Porto Alegre, junto ao seu grupo musical ‘Águias da Meia-Noite’. Gostou da cidade e decidiu ficar. Além de músico, também era produtor e ator de rádio e televisão. Arranjou emprego na TV Piratini e na Rádio Farroupilha, onde criou, ao lado de J. Antônio D’Ávila, o mais famoso programa de rádio dos anos 50: ‘A Rádio – Sequência’. Do Rio de Janeiro, trouxe o amor pelo Flamengo, mas logo se identificou com o Internacional.
Mais do que isso. Aprendeu a amar o time vermelho da capital gaúcha, tanto que antes de falecer, em 16 de março de 1983, aos 66 anos, disse que ser colorado e autor do hino do Clube eram seus maiores patrimônios. E, de fato, sua criação ‘Celeiro de Ases’ (esse nome em alusão ao ‘Rolo Compressor’, segundo o próprio autor), está eternizada na história do Inter.
Como bom compositor, Nelson Silva deixava as ideias fluírem. Não importava a situação ou o local. Quando a inspiração vinha, tinha que ter uma caneta em punho. E foi exatamente assim, de maneira inusitada e genuína, que nasceu o hino que é entoado até os dias de hoje pelos colorados.
Mas, diferente do que se poderia imaginar, a criação não foi motivada por uma vitória do Inter. Foi em uma derrota para o Aimoré, em São Leopoldo, em 1957, que mexeu com os brios do carioca.
Ao lado, a súmula da partida que deu origem ao hino.
“Nasceu de pura raiva este hino. Eu estava esperando minha noiva, Ieda, na Rádio Farroupilha, e com os ouvidos bem abertos esperando uma reação do Inter. Quando acabou o jogo, nós tínhamos perdido (3 a 0), e eu estava sem acreditar, desesperado da vida. Sentei em uma mesa e comecei a botar as ideias que tinha na cabeça no papel. Em meia hora, com aquela raiva toda, surgiu a marchinha ‘Celeiro de Ases’ que eu mesmo musiquei”, declarou Nelson Silva em matéria publicada no Jornal do Inter de 15 de novembro de 1975.
Porém, o conhecimento da canção pelo público não foi imediato. No final da década de 1950, o Inter promoveu um concurso para a escolha do aguardado hino. A marchinha criada por Silva não concorreu oficialmente, mas já havia caído nas graças da nação vermelha e branca.
“Durante muito tempo guardei para mim. Tinha sido um desabafo. Não era uma música. Depois eu me dei conta que ser colorado era isso mesmo: os sentimentos mandando. Então comecei a mostrar a música devagarzinho, cantando na rádio, nos bares e nas serestas. Daí foi pegando o embalo. Todo mundo falou para eu inscrever no concurso, mas eu pensei: ‘Se o pessoal já gostou, não vai ser um concurso que vai mudar isso’. Um dia fui ao Inter e disse para os homens: ‘tô dando os direitos do hino pro Inter’. Nunca ganhei nada com o hino. Quer dizer, falando em dinheiro, porque amizade ganhei muito. Chego no Beira-Rio hoje e é aquela festa”.